Crise do estado atinge famílias do Alemão

Crise no Alemão afeta o cotidiano dos empreendedores. Crédito: Cleber Araujo/ANF

A crise do Governo do Estado tem se mostrado uma grande catástrofe para as favelas. O quadro parece pior ainda no Complexo do Alemão, que recebeu muitos investimentos nos últimos anos. O Programa de Aceleração do Crescimento, promovido nos governos Lula e Dilma, levou quase R$ 1 bilhão apenas para essa região. Mas a interrupção de diversas obras, a suspensão das atividades do teleférico e o fracasso das UPPs geraram desemprego e prejuízos para comerciantes e moradores, que temem o retorno da pobreza extrema.

Bar do Mosquito teve vendas reduzidas por conta da crise. Crédito: Cléber Araujo/ANF
Bar do Mosquito teve vendas reduzidas por conta da crise. Crédito: Cléber Araujo/ANF

“Houve um impacto realmente forte aqui. A renda caiu pela metade”, afirma Flaviano de Oliveira Santos, proprietário do tradicional Bar do Mosquito. Aberto há 25 anos pelo pai de Flaviano, o estabelecimento viveu tempos de glória com a movimentação de turistas vivida no Complexo do Alemão após a inauguração do teleférico, em 2010. A instalação de uma Unidade de Polícia Pacificadora reduziu por um tempo a incidência de tiroteios e aumentou a sensação de segurança de quem vinha de fora. A favela chegou a contar com agências de turismo. Havia ainda uma grande circulação de renda ali por conta dos milhares de empregos gerados pelas obras do PAC.

Os tempos de hoje são outros. Reginaldo Santos, o Regi, relata que a venda de cerveja em seu bar na Praça do Samba, parte mais alta da favela, foi reduzida a 30% da quantidade daquela época. Ele e Flaviano estão entre os muitos empreendedores locais que amargam prejuízos e lutam para sobreviver. Nos dois principais centros comerciais do Alemão, nas localidades da Grota e da Nova Brasília, basta conversar com alguns comerciantes para perceber a sensação de desespero que muitos enfrentam agora para manter as atividades e honrar compromissos financeiros com fornecedores e funcionários. Por lá, já se veem portas fechadas por motivo de falência. Há um temor generalizado de que o fantasma da fome retorne.

Apesar dos percalços, a criatividade segue sendo uma grande arma: é possível notar que o comércio informal cresceu. Em várias partes do morro, aumentou o número de carrocinhas que vendem de tudo um pouco. De salgadinhos fritos na hora ao famoso podrão, passando pelos conhecidos yakissobas, os já apelidados de “carroça food” garantem a sobrevivência de quem tem a capacidade de sempre se reinventar. Ou seja, a duras penas, a favela resiste.

Colaborou Julianne Gouveia

Publicado na edição de Dezembro de 2016 do Jornal A Voz da Favela.