Consciência é uma questão de cultura

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No dia 20 de novembro, é comemorado o Dia da Consciência Negra, data que homenageia o último líder do Quilombo dos Palmares – Zumbi, assassinado junto a sua família e companheiros. A data é bastante importante, porque simboliza o extermínio da população negra que acontece até hoje.

Os negros no Brasil são detentores de um legado gastronômico, religioso, artístico, ideológico e cultural que se difunde na multiplicidade étnica do país. Apesar da catequização que impunha valores e tradições europeias, os afrodescendentes conservaram suas manifestações culturais e criaram tantas outras que conhecemos através dos tambores do axé, maracatu, samba, ijexá e maculelê, por exemplo. A difusão contemporânea da herança africana no Brasil teve maior expansão após a criação do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, que foi extinto na reforma ministerial do até então presidente interino Michel Temer em 2016.

 

O golpe na cultura

Uma das primeiras medidas de Temer foi também a extinção do Ministério da Cultura. A cultura, instrumento de pertencimento imprescindível na construção da cidadania de um povo, é a maior vítima do sistema vigente. É óbvio que precarizar os meios de democratização da cultura é uma estratégia para silenciar os excluídos habituais do sistema. A cultura empodera e dá voz à periferia, ao meio rural, às mulheres, aos indígenas, aos negros, aos LGBTs e a qualquer um que se expresse através da arte, da comunicação e da educação. A simbologia deste fato social traz a volta de padrões estéticos e comportamentais da era pré-abolição.

 

Posse dos ministros de Temer: Mendonça Filho (Educação) e Marcelo Calero (Cultura) - Créditos: Reprodução Internet)
Posse dos ministros de Temer: Mendonça Filho (Educação) e Marcelo Calero (Cultura) – Créditos: Reprodução Internet)

 

A pressão social contra a extinção do Ministério da Cultura no último semestre foi tamanha que as sedes do MinC foram ocupadas em 27 estados no país. Este desmantelo na administração pública provocou uma desordem econômica e social. Temer desistiu da medida e recriou o ministério, elevando ao status de ministro o então primeiro secretário nacional da Cultura Marcelo Calero.

Calero teve dificuldade em dialogar com os setores culturais, que majoritariamente não apoiam o governo. Seis meses depois, ele acaba de deixar o cargo alegando limitação na autonomia de seu cargo a partir da pressão para ceder aos interesses do ministro da Secretaria de Governo, empresário e pecuarista baiano Geddel Vieira Lima (PMDB). O novo ministro da Cultura é o presidente do PPS e deputado Roberto Freire. Ele foi um dos articuladores do impeachment de Dilma Rousseff, se mostoru favorável à extinção do ministério e ainda é investigado em processos por corrupção – em um deles, é acusado de ter recebido R$500 mil da empreiteira Odebrecht.

Cultura e consciência

É interessante observar a rejeição ao governo atual diante da dificuldade de articulação com a sociedade. Todas as medidas são impostas, e mesmo diante da indignação popular, os projetos são implementados. As pessoas que discordam destas políticas são marginalizadas pela mídia, e a polícia tem tratado de forma cada vez mais violenta os cidadãos que contestam este modelo econômico e social. Além disso, o momento histórico que vivemos atualmente é caracterizado por um golpe politico, criado por homens brancos que mantêm os seus no poder hereditariamente há mais de 500 anos. O golpe na cultura, na saúde, na comunicação, na segurança, nos direitos e conquistas sociais é uma forma de manter os negros e pobres como a base de uma piramide econômica lucrativa e rentável para uma pequena parcela da sociedade.

Segundo os dicionários, “consciência” é o sentimento ou conhecimento que permite ao ser humano vivenciar, experimentar ou compreender aspectos ou a totalidade de seu mundo interior. A palavra também pode ser entendida como o sentido ou percepção que o ser humano possui do que é moralmente certo ou errado em atos e motivos individuais. Assim sendo, vamos comemorar a o Dia de Zumbi, mas com consciência. Esta data mostra que o nosso povo morre pelos seus ideais, que o nosso povo não aceita se submeter a escravidão, e foi por isso que Zumbi morreu. A Consciência Negra transpassa a compreensão do que significa carregar melanina na pele e todo o legado cultural e a experiência do sequestro da África, escravidão, exclusão social e racismo que ferem a história do nosso povo no Brasil. Negritude é resistência.