Comunidade abraça imigrantes na César Maia

Edna Marisa de Angola. (Créditos: Rafael Rabelo / ANF)

Por Daniel Borges, Rafael Rabelo, Roberto Costa e Yan Guttemberg

Perto da mais conhecida Praia do Recreio, a iniciativa de uma comunidade acolhe novos moradores estrangeiros com sua cultura e tradições. O Projeto Maia realiza ações no Conjunto Bandeirantes I, Zona Oeste do Rio, e, através da troca gastronômica, incentiva a interação entre brasileiros, haitianos e angolanos da comunidade.

Segundos dados da Fundação Getúlio Vargas, o Brasil tem hoje cerca de 700 mil imigrantes, vindos de diversos países do mundo. Alguns deles vivem na comunidade César Maia, que hoje tem entre seus moradores imigrantes vindos de Angola e Haiti, além de brasileiros vindos de outras regiões, como o Nordeste, que chegam à favela em busca de educação, trabalho e uma vida estável.

Michel Durogene do Haiti. (Créditos: Rafael Rabelo / ANF)
Michel Durogene do Haiti. (Créditos: Rafael Rabelo / ANF)

Para incentivar uma maior integração entre esses grupos, o Projeto Maia promove atividades que abrem espaço para que os próprios estrangeiros mostrem um pouco da cultura de seus países. Em novembro, um evento chamado Diálogos Afro Culturais animou a comunidade com a degustação de pratos típicos do Haiti e de Angola. Mais de 200 porções foram servidas.

Os moradores se sentiram atraídos pela criatividade, apresentação e sabor único de terras distantes. Crianças que nunca tinham provado da culinária afrodescendente – e costumam ter um paladar difícil – experimentaram e aprovaram as iguarias exóticas.

 

Planos e projetos na casa nova

O prato fritada, que é feito com banana d’agua cortada em fatias e frita, carne seca frita e um molho apimentado, do haitiano Michel Durogene, causou euforia. Michel chegou ao Brasil buscando construir família e estudar, já que, para ele, o nível de educação aqui é mais elevado que no Haiti e tem como ponto positivo a ampla aceitação de estrangeiros nas universidades. Integrado à cultura brasileira, Michel agora vive na comunidade, onde espera encontrar sua cara-metade e sonha montar um restaurante. “Não casei, estou sozinho agora. Primeiro, preciso estudar mais e conseguir falar português fluentemente, porque sozinho não dá pra viver”, explica.

As diferenças culturais geram acontecimentos inusitados. A angolana Edna Marisa – que também apresentou no evento um prato que fez sucesso: o mufete, que tem como ingredientes principais o peixe carapau, batata-doce, o molho de cebola com vinagre, azeite doce e uma pitada de sal – conta que foi muito bem recebida, mas que a variedade de sabores do Brasil já chegou a confundi-la. “Uma vez, fui comprar tomate na feira. Provando, eu achei interessante, estava meio doce. Comecei a perguntar às pessoas e elas me falaram que eu tinha comprado um caqui”, diverte-se.

Com muitas histórias para contar, esses e outros imigrantes se sentem confortáveis na comunidade Cesar Maia e não pretendem voltar aos seus países de origem. Afinal, esta é a casa deles agora, cheia de acolhimento, amor e respeito.

Matéria publicada na edição do mês de janeiro de 2018 no jornal A Voz da Favela.