Amor na periferia: histórias que você precisa conhecer

Ah, que coisa mais chata! Mais um texto sobre amor! Assim vamos seguir o dia de hoje, sendo bombardeados de declarações e balões coloridos nas redes sociais, fotos de casais que nunca vimos e novos relacionamentos criados antes mesmo da 0 h do dia 11 de junho.

Qual o problema de passar o dia de hoje sozinho? É tão ruim assim ter um momento para ficar em silêncio? É, talvez essa seja até uma verdade absoluta, ou não. O problema real é quando essa necessidade de estar só parte de decepções ou estatísticas que já estamos cansadxs de ler e ouvir por todo o canto.

Mulher, negra, gorda, lésbica, mãe e solteira… Caramba! E a lista não para, não é mesmo? Parece que é cada vez mais difícil se encaixar no “benefício” de ser feliz com alguém – não que isso seja uma regra. A gente fica tentando encontrar uma forma de acreditar que o amor está no ar. Mas é cansativo, é sacrificante só de imaginar. E as disputas que nos colocam são muitas.

Mas quem são as nossas mulheres, que buscam por uma metade nas periferias? Basta uma pesquisa no Google com o termo “Mulher de Favela” para que uma longa lista de matérias e estatísticas apontem o que eu já sabia desde que vi minha mãe pela primeira vez: mulher de favela é chefe de família. 44% dos lares de favela são chefiados por mulheres, segundo o Data Favela 2015. Até aí, nenhum espanto, pois já sabemos que dentro dos territórios de maior vulnerabilidade, são elas que dão conta de tudo – na maioria das vezes, esquecendo de si.

Lembrei mais uma vez de dona Ivani Barbosa, minha mãe, que desde sempre teve em sua rotina nos dar melhores condições de vida. Mãe, filha e raramente mulher, mesmo sendo dona de si, alguma coisa lhe faltava e não era homem a palavra que preenchia a lacuna vazia, mas o vazio na alma de uma parceria, que ia além da família que já tinha.

A solidão da mulher periférica não precisa se repetir. Empoderamos nossas mulheres, mas na jornada de vida muitas vezes será preciso ter alguém do lado como parceiro (a) para seguir um caminho ainda mais promissor. E mesmo essa não sendo uma regra, me peguei perguntando se realmente teríamos pares empoderados para juntos continuarem o amor da periferia. Tem como? Tem, sim.

Monique e LucasMonique Evelle é baiana de Salvador e conheceu Lucas durante um evento sobre empreendedorismo. Eles estão juntos há dois anos. O encontro deu tão certo que criaram a Kumasi e hoje eles lideram uma das empresas brasileiras mais promissoras do Brasil, a Evelle Consultoria – Direitos humanos, onde Lucas cuida de todo o marketing enquanto Monique gerencia as outras áreas e projetos, como o Desabafo Social.

 

 

 

ThamyNathanTamy e Nathan eram amigos. Assim começa mais uma história que poderia acabar na chamada na friendzone, mas que foi possível graças à atitude e, acima de tudo, paciência de Nathan. Cria do Chapadão, Tamyris é uma das DJs mais conhecidas do Rio e agora já desponta para todo o Brasil. Conhecida como DJ Tamy por sempre liderar as maiores festas cariocas, não teve sucesso com seu jeito durão e resistente. Depois de muitas investidas, Tamy e Nathan começaram a namorar e estão casados há um ano. Produtor executivo, é ele quem cuida hoje de sua carreira artística. Quem os conhece sabe que sempre transmitem força e companheirismo um para o outro, desde o primeiro momento em que começaram a trabalhar juntos.

 

Luany Cristina é uma das figuras mais faladas na web. Dona do Diva do Black e embaixadora de uma das maiores marcas de cosméticos do país, ela gerencia seu canal no Youtube e divide a vida entre o trabalho de empreendedora e a filha Ana Beatriz. Mas foi quando encontrou o Anderson que as coisas começaram a trilhar um caminho mais leve.

LuanyAndersonA história da Luany poderia ser mais uma história sobre a solidão da mulher negra, mãe e solteira mas o que era pra ser mais um número na estatística, mudou quando encontrou alguém que entendeu que não bastava apenas ser, mas estar presente como parceiro de vida em todas as áreas da história daquela com quem ele escolheu para passar seus dias. Anderson, além de namorado, é quem cuida e gerencia todo o marketing visual que gira em torno de uma influenciadora digital nos tempos atuais. Também está habituado à falta de tempo da namorada, sempre com a agenda lotada de trabalhos.

Eles se conheceram através de um amigo em comum. Na época, Lu havia perdido sua mãe e estava totalmente perdida sobre quais caminhos seguir. Foi através da amizade e logo depois, no namoro, que encontrou motivação para continuar e equilibrar sua autoestima. O fato de ele ser morador do Complexo do Lins preocupou o jovem, que não sabia como a família dela o receberia a notícia, mas o tempo lhe deu confiança para assumir que morava na favela.

 

Thamyra e Marcelo se conheceram no teatro, mas somente dois anos depois perceberam que a parceria iria muito além do palco. Ela é jornalista do Gama, periferia de Brasília, enquanto ele é ator e palhaço e nasceu na Cidade de Deus.

ThamyraMarceloApesar de morarem em uma das maiores favelas do Rio, o Morro do Alemão, esses dois nunca permitiram que os obstáculos fossem barreiras para desistirem do que queriam. Juntos, criaram o Favelados pelo Mundo com o intuito de unir a vontade de viajar com pouca grana e a brilhante ideia de impulsionar outros jovens de periferia a buscarem seus sonhos. Recentemente, Thamyra e Marcelo abriram as portas de sua casa para abrigar 10 jovens de diversas favelas por três dias durante a Bateu uma Onda Forte, com o intuito de compartilhar tecnologia, criatividade e empreendedorismo com diversas mentes pensantes do Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. Ele auxilia a amada no GATOMídia, projeto idealizado por Thamyra que gera emprego e comunicação dentro do Alemão.

 

Luci e Ray: é assim que se chamam as duas garotas mais zueiras da web nos últimos tempos. Luci é youtuber e tem 19 anos, enquanto Ray tem 21, mas foi na escola que elas se conheceram.

Foto: Bia Mercez
Créditos: Bia Mercez

Juntas efetivamente há pouco menos de um ano e já noivas, essas duas dividem a vida entre se manterem financeiramente com muito humor e se dedicarem totalmente ao canal no YouTube da Luci. Ray é a responsável por criar os roteiros, dar ideias. Até na make ela dá palpite quando necessário, mas é nos tópicos que importam aos LGBTs que elas têm foco.

Recentemente ao seguir para um bar no Baixo Valqueire e comemorar 10 meses de relacionamento, sofreram ataques homofóbicos por parte de alguns clientes do estabelecimento. O post com o desabafo, que conta com mais de 850 likes no facebook e mais de 100 compartilhamentos, foi uma forma de protesto para que outras pessoas não sejam vítimas de situações como essa.

 

Antes desse texto ir ao ar, buscamos todas as formas de amor para que todo mundo pudesse se sentir representado, mas, como esperávamos, muitos casais com histórias incríveis preferiram resguardar sua imagem por questões de segurança – ou, como um dos nossos entrevistados nos disse, “por questões de sobrevivência”.
A homofobia mata e ela também é uma representação da falta de amor.