A violência constitucionalizada

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Nos últimos anos, especialmente após as mobilizações de 2013, temos assistido uma intensificação de manifestações conservadoras, seja na sociedade civil ou nos três poderes institucionais. O que se iniciou como uma demonstração de insatisfação pelo aumento dos preços das passagens do transporte coletivo urbano se espraiou por reivindicações em outras áreas, como saúde, educação e moradia, culminando nas chamadas Jornadas de Junho, que chegaram a levar no Rio de Janeiro um milhão de pessoas para as ruas.

Aquelas e aqueles que tiveram a oportunidade de participar puderam observar que essas atividades reuniram pessoas e grupos das mais diversas camadas sociais e políticos. Se, inicialmente, a pauta eram os 20 centavos do aumento das passagens, aos poucos, a ela foi sendo acrescida a bandeira da anticorrupção que atravessa as esferas de poder do país.

As divergências políticas foram se intensificando, o que levou os grupos a se direcionarem para locais também diferenciados. O desfecho foi a redução da passagem, no entanto, as reivindicações não pararam aí. Continuaram as lutas. Os grupos à esquerda pautaram a ampliação dos direitos sociais contidos na Constituição Federal de 1988. Os grupos à direita se concentraram no combate à corrupção.

Ambos seguiram suas lutas em locais, dias e públicos diferenciados, porém, o grupo político que mais se sobressaiu foi aquele que reunia os mais conservadores. O comum desse circulo era o combate à corrupção. Eram todos pertencentes à classe média, e, em sua maioria, brancos que supostamente queriam um Brasil melhor.

No Rio de Janeiro, Copacabana virou o centro do espetáculo da direita. Saiam às ruas com a camisa da CBF, levavam seus filhos acompanhados de suas babás (essas últimas como um apêndice), com seus cães de raça, champanhe. Mais parecia uma festa da burguesia em espaço público, com direito a segurança e proteção da Polícia Militar, do que uma mobilização.

Essas lutas resultaram no impeachment da então presidente da República, Dilma Roussef, acusada de corrupção pelas chamadas “pedaladas fiscais”. Assumiu seu lugar Michel Temer, dando um golpe na recente democracia brasileira. Este governo deu continuidade e intensificou as contrarreformas do Estado brasileiro, no assíduo processo de retirada dos direitos das trabalhadoras e trabalhadores.

2017 vinha sendo exemplar na implementação das metas do governo, até que, em junho deste ano, o empresário Joesley Batista, do grupo JBS, denuncia Temer por corrupção em delação premiada. Como prova, entrega à Justiça a fita e um gravador da conversa com o presidente, onde combinaria entregaria de malas de dinheiro a assessores direto – como vimos tanto na mídia.

Se seguirmos as pautas do dito grupo anticorrupção que começou em 2013 e derrubou Dilma, o futuro do Temer deveria ter sido o mesmo. Como vimos, não foi, o que nos leva a perceber que há diferentes reivindicações para diferentes personalidades, com também diferentes desfechos. Temer segue com suas contrarreformas, enquanto Dilma hoje é ex-presidente.

Legislativo e Judiciário seguem na manutenção dessa ordem desenhada em 2016. Sabemos que aquelas lutas nunca foram pelo fim da corrupção. Do contrário, Temer e outros não estariam em seus atuais postos. A partir de 2013, as lutas por pautas conservadoras, tendo por simbologia a queda dos Partidos dos Trabalhadores (que há muito já não é da esquerda radical), se encaixam muito mais como golpe do que qualquer avanço.

Portanto, tudo nos indica que a luta nunca foi pelo fim da corrupção. As medidas do governo atual têm atingido negativamente a população pobre e carente, em sua maioria, concentradas em periferias e favelas. Todos se mostram apáticos. Para que assim permaneçam, as forças armadas oferecem mostras diárias da paz requerida pelas classes dominantes com o silêncio dos trabalhadores. Não me parece coincidência esse governo findar em dezembro de 2018 e o exército estar nas ruas também até esse período.

Nos resta entender para quem Temer realmente governa e a quem a Polícia Militar está realmente protegendo, pois percebemos que esses que se levantaram em 2013 não estão preocupados com a intensificação da violência nas favelas, por exemplo. Se nós pretas e pretos favelados somos a maioria dessa sociedade (compomos quase 53%), se esse governo não é para nós e a polícia não cumpre o seu papel de garantidor da segurança pública, tudo indica que precisamos mudar urgentemente essa realidade.